sábado, novembro 22, 2008

As folhas do Loureiro

Dias Loureiro é de facto um dos grandes trafulhas da nossa democracia.

Já não bastava ter sido o ordenante das várias cargas policiais durante o tempo em que foi ministro da administração interna (tendo como exemplo a ponte 25 de Abril ou os disparos sobre a população no Pragal), foi também o responsável por negociatas com os aviões de combate aos incêndios. Agora está envolvido com os crimes financeiros do BPN.

Numa tentativa de se descupabilizar junto da opinião pública, tentou ir ao parlamento. Não conseguindo, foi à televisão. E como a RTP se deixa instrumentalizar, disse o que se esperava. Que não sabia de nada, que é um anjinho e que à não sei quantos anos tentou denunciar o que se passava no BPN. Que curioso. Só tentou fazer isso uma vez numa conversa privada com alguém do Banco de Portugal. Talvez se fosse uma pessoa séria, se tivesse demitido do BPN e denunciado publicamente a situação... Se não fosse a crise, nada disto se saberia. E andava o Sr. Dias Loureiro, contente e feliz a capitalizar...

No final do governo de Cavaco Silva, falava-se que o tabu era uma forma do então primeiro-ministro se distanciar das negociatas já em curso pelo aparelho partidário do PSD, lideradas por Dias Loureiro. Afinal, passados tantos anos, este é nomeado para membro do conselho de estado do Presidente Cavaco Silva. Haverá melhor forma de evidenciar um acordo do Presidente do país com as negociatas de Dias Loureiro? Não deveria existir um pouco mais de decoro?

Entretanto, já sabemos que Oliveira e Costa um mês antes de sair do BPN passou tudo para a mulher e se divorciou, depois de 48 anos de casado... Que curioso... Já agora, qual será o património de Dias Loureiro?

Na mesma...

Nos últimos tempos andei afastado da escrita no blog. Estive em casa, por razões de saúde. Finalmente corrigi algo que deveria ter feito à muito tempo. No entanto, mesmo em casa, sinceramente não me apeteceu escrever. Preferi cozinhar, melhorar as minhas receitas de fazer pão, fazer um pouco de bricolage e ir ajudando a arrumar a casa.

Têm passado por mim as recentes grandes questões mediáticas:

  • A avaliação dos professores e o estatuto do aluno provam que é possível a um governo ter contra si os gregos e os troianos.
  • A situação na assembleia regional da Madeira mostra que o governo regional gosta de ter o exclusivo da palhaçada da região. O único problema é que os palhaços quando estão no poder se tornam perigosos para a democracia. E julgam-se donos de tudo.
  • Também se demonstrou que ao nosso presidente da república não lhe interessa por na ordem os governantes da Madeira. Pensava que o presidente seria como a justiça, cego à cor politica. pelos vistos enganei-me.
  • No caso do BPN, provou-se que a única função do Governador do Banco de Portugal é de se auto-aumentar, até ter um ordenado imoral, quando comparado com o país que temos. E de pedir contenção nos ordenados de quem trabalha... Porque controlar os grandes negócios e os grandes crimes financeiros não está no seu âmbito.

Parece-me que o país não mudou muito.... Ora vamos lá voltar a tomar mais atenção para ir escrevendo aqui algumas coisas...

quinta-feira, outubro 09, 2008

Rumor auto-cumprido

Vítor Constâncio, todo-poderoso e auto-aumentado governador do Banco de Portugal veio afirmar que "O que é importante é que ninguém confie em rumores e no que se diz, e confiem no que dizem publicamente e expressamente as autoridades", referindo-se a rumores que têm aparecido recentemente sobre a existência de bancos à beira da ruptura em Portugal.

É curioso. Até estas declarações, eu não fazia ideia que haviam bancos à beira da ruptura no nosso país.

Feios, irresponsáveis e maus

Anteontem, o nosso aspirante a secretário de estado dos EUA, Luís Amado, veio à Comissão Parlamentar de Negócios estrangeiros dizer que apresentar queixa à PGR sobre os voos da CIA teria sido "irresponsável". E que "Seria irresponsável, como seria irresponsável abrir uma suspeição pública europeia sobre o Presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, que foi primeiro-ministro de Portugal (...), era muito fácil, mas era inaceitável. Era feio!"
Senhor ministro, podia ser "irresponsável" e "feio". Mas era transparente e sério. Actualmente temos tendência em esconder a realidade atrás do status quo internacional. Infelizmente, por não sabermos dar o murro na mesa quando é preciso é que estamos na situação de desiquilibrio de forças actual. Por muito que relembremos o que se passou à 63 anos, o vizinho do lado de lá do atlântico não é nosso amigo. Não nos esqueçamos disso.

quarta-feira, setembro 24, 2008

Brincadeiras de Criança

Cada vez mais me convenço que a política actual é uma brincadeira de crianças crescidas. Como exemplo desta certeza, tenho agora o caso da discussão no parlamento do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Para o PS, como o assunto não foi iniciado por eles e não está na agenda que eles definiram, não deve ser debatido. E como eles não andam a reboque de ninguém, não vão debater o assunto nem tecer mais comentários.

Ora digam lá se isto não é atitude típica de um menino mimado? Como não foram eles a iniciar a brincadeira, já não brincam.

Estamos entregues a isto? Então e a legitimidade que todos os grupos parlamentares têm, enquanto representantes eleitos do povo português, de apresentar propostas de lei para discussão no parlamento? Como podemos ter democracia real se os principais partidos insistem em tratar a democracia a pontapés? Depois queixem-se que as pessoas não se interessam por politica. Depois queixem-se quando já ninguém votar e vier um extremistazeco qualquer tomar o poder por via eleitoral.

P.S.1: Quem teve a brilhante ideia de sugerir um referendo sobre este assunto? Já não se lembram do fracasso dos outros referendos em termos de participação popular? Enquanto não mostrarem que vale a pena, as pessoas não vão votar em referendos.

P.S.2: Como vai votar Paulo Portas esta lei? Porque é que quando chegam estes assuntos, ninguém o questiona directamente? Ele tem sempre tanto para dizer sobre tudo. Ou sobretudo nesta matéria não terá nada para dizer?

Obrigado

Já descobri quem são os dois leitores do Matrecos. E fiquei bastante surpreendido. Então não é que os meus pais ficaram interessados no que eu ando a escrever?

Já viram, queridos papás? Andaram vocês a criar um filho para isto...

Mas agradeço o vosso interesse no que ando para aqui a escrever. E continuem por aqui, pode ser que leiam nas entrelinhas algumas coisas que reconheçam como vossas.

sábado, setembro 20, 2008

Paradigma

As falências das empresas financeiras ocorridas nas últimas semanas, que obrigaram à intervenção efectiva do estado Norte Americano, bem como a injecção massiva de capitais efectuada em conjunto pelos bancos centrais Americano, Japonês e Europeu, comprovam que o capitalismo dito "selvagem", de regulação exclusiva pelo mercado, não é solução para a sociedade.
Como sempre, e é da natureza humana sermos assim, fomos do 8 ao 80. Com a falência do estado socialista, ultra-controlador em termos económicos, apressou-se o ocidente a venerar o capitalismo puro, sem qualquer controlo do estado, como o novo graal de uma sociedade perfeita.
Esqueceram-se no entanto de que há um factor na natureza humana (e que foi o mesmo factor que não permitiu que o socialismo triunfasse) que não é controlável. Dito em termos simples, esse factor chama-se ambição. Mas também se pode chamar avidez ou ganância.
O facto é que os líderes das maiores empresas mundiais têm apenas o lucro como meta. É assim tão simples. Por muitas operações de cosmética que façam, não é crível nem expectável que tenham qualquer preocupação com a sociedade à sua volta.
Por isso é importante a intervenção e a regulação do estado, de modo a que o mercado não se canibalize, como tem vindo a acontecer nos últimos tempos. Sendo o estado a representação desejável da população, deverá zelar para que o interesse de uns poucos não se sobreponha às necessidades da maioria.

quinta-feira, setembro 11, 2008

É preciso lata

Quando se unem construtores e advogados, só pode dar em miséria ética.

No caso do desabamento de um prédio esta semana em Braga, causador da morte a três trabalhadores, verificou-se agora que este estava identificado como um edifício de risco há 7 anos, não tendo sido efectuadas quaisquer obras pelo proprietário.

Apressou-se logo o advogado do construtor responsável pela obra a afirmar que assim ficava provado que o responsável pelas obras não tinha qualquer responsabilidade no sucedido.

Só apetece dizer "Como é que é?". Então o responsável de obra não tem de verificar das condições de segurança para os seus empregados? Ou é só enviá-los à sua sorte, e seja o que Deus quiser?

Por estas razões é que continuamos a ser um dos países da Europa com pior índice de acidentes no trabalho. O que importa é ganhar dinheiro. Quando acontece alguma coisa, há que tentar escapar a todo o custo. Continuamos a ser do terceiro mundo naquilo que importa, incluindo o respeito pelo próximo.

Astúrias Atrasadas

A Ingrid Betancourt foi atribuído o Prémio Príncipe das Astúrias, depois de estar cativa por mais de seis anos junto das FARC.

Sendo o objectivo deste prémio chamar a atenção para "todos aqueles no mundo que estão privados de liberdade devido à defesa dos direitos humanos", não teria sido uma acção mais meritória ter-lhe atribuído o prémio enquanto ela estava presa? Pelo menos teria servido para divulgar mais a sua situação. Penso que agora é fácil atribuir o prémio.

sábado, setembro 06, 2008

Coming of age

Esta noite queria estar na festa do Avante a comer petiscos e a beber copos. Ao invés tive de ir a uma reunião do condominio e falar de coisas chatas como orçamentos, despesas e receitas.
Não dei conta quando as responsabilidades do adulto ganharam prioridade face ao resto...

domingo, agosto 24, 2008

Não somos só nós...

Estive à pouco a ver a cerimónia de encerramento dos Jogos Olimpicos, e no meio do encantamento geral, anotei a única nota verdadeiramente negativa.

Não é que o excelentissimo presidente da câmara de Londres, Mr. Boris Johnson é um bronco de primeira? Primeiro vinha (na passadeira vermelha de uma das cerimónias mais importantes do mundo) de casaco aberto e mangas que chegavam a meio das mãos, mostrando que não sabe o mínimo de etiqueta. Depois deu mostras de que não sabia bem o que estava ali a fazer. Bem se escudou dizendo adeus à multidão e aos atletas ingleses. Depois deu mais um espectáculo de inaptidão ao agitar a bandeira olimpica (ao contrário dos seus parceiros de cerimónia) e no final, com toda a lata do mundo, saiu na passadeira vermelha de mãos nos bolsos... É verdade, de mãos nos bolsos (e ainda por cima nos bolsos do casaco)...

E eu a pensar que na velha albion os principais dirigentes tinham alguma noção de etiqueta e de comportamento em cerimónias importantes. Afinal enganei-me...

Felizmente não somos só nós....

sábado, agosto 23, 2008

Chinela

O facto de o comité olimpico ter mandado regressar o Marco Fortes de Pequim para Lisboa, por causa das suas declarações, é caricato.

Infelizmente esta decisão revela o país terceiro-mundista em que vivemos. Queremos parecer muito sisudos e sérios, quando não é preciso. As verdadeiras pessoas responsáveis são aquelas que sabem guardar as decisões correctas para as alturas apropriadas.

O Marco Fortes não tem qualquer experiência de falar com os jornalistas (fruto do dominio do futebol nos media), para além de ser reconhecidamente bem disposto. Teve apenas um desabafo. Ele esforçou-se para lá chegar, e estas declarações não representam qualquer falta de respeito.

Mas os senhores do comité olimpico julgam que estamos a tratar de coisas sérias e que temos de ter respeitinho. Respeito teria o seu presidente por nós se não andasse a dar o dito por não dito, dando o salto (triplo) entre o não fico e o talvez fique...

terça-feira, agosto 19, 2008

Estejam mas é caladinhos!

Acabei de ouvir o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Laurentino Dias, dizer que gosta mais de ver os atletas a competir do que a falar.

É normal que um membro do governo com os tiques autoritários que este demonstra tenha estas frases. Em vez de reconhecer que, para resultados, são precisos apoios, o secretário pede para que os atletas se calem.

Gostava de saber quantas piscinas de 50 metros há em Portugal. Ou quantos atletas da delegação precisam de contar com a boa vontade dos seus chefes para poder treinar sequer uma vez por dia. São questões pertinentes, e que não são de agora.

O que o governo não pode pedir é que as pessoas se calem. Porque é apenas nestas alturas que os media dão cobertura aos atletas das modalidades menos conhecidas, como o tiro com arco, os trampolins ou a vela. E eles, como todos nós, também tem direito a fazer ouvir a sua voz.

quarta-feira, agosto 13, 2008

Regressos

Voltei hoje do Pico para São Jorge. Aproxima-se o dia de regressar a Lisboa. Por aqui chove, mas o calor associado à humidade faz-me pensar que estou numas ilhas mais a Oeste daqui, bem mais perto do continente americano. Nunca senti este nível de calor por estas ilhas. Entretanto, vou "despachando" as minhas peregrinações anuais. Nestas férias já acumulei cerca de 20 horas de caminhadas pela ilha. Já fui ao Pico, e visitei as sedes de concelho (no entanto, este ano não houve tempo nem disposição para apanhar o barco na Madalena e beber o gin tónico no Peter's - também não fui à ponta da ilha). Já cozinhei por cá uma receita tradicional da minha familía, desta vez com coelhos bravos caçados aqui. Correu bem, felizmente.

Falta-me ir às Velas a pé. E depois, despedir-me das férias, com mais uns banhos nas Manadas ou nos Terreiros. E depois como será o regresso? Já recarreguei as baterias. Sinto-me cada vez mais ligado a esta terra.

Estou mais introspectivo. Sinto-me mais tentado a escrever sobre mim do que sobre o que se passa à minha volta. E tenho mais vontade de escrever. Sem pensar demasiado na forma nem no conteúdo. Escrever apenas. Pode não sair uma obra de arte, mas pelo menos vai saindo o que estou a pensar no momento. Pode não ser muito bonito, mas é genuíno. Será isto também um regresso interior?

sábado, agosto 09, 2008

São Jorge

Ao ver as cores do céu e das nuvens quando o sol se põe ao lado do faial, as cores do mar na fajã da ribeira da areia ou a lua reflectida no canal entre São Jorge e o Pico é que entendo a ânsia dos pintores em encontrar os tons certos para as suas pinturas. Há tons que não são capturados em fotografias. E esses tons venho encontrá-los aqui, no coração dos Açores. Por entre a montanha e as fajãs, com vista para o resto do grupo central, há coisas que só são apreendidas por quem cá chega. A gente, lutando desde sempre contra os elementos e a orografia, mas também com a ajuda da natureza exuberante, com os verdes, os castanhos, os azuis. E os tons. Os tons da vivência que não há fotografia que capte. Só a pintura feita com os pinceis de quem cá vive.

domingo, junho 01, 2008

Será que é desta

Das eleições do PSD sobressaem dois factores importantes:

  1. O PSD poderá apresentar nas próximas eleições legislativas uma candidatura credível, com o chamado "sentido de estado" ou, pelo menos, alguém que aparenta saber do que está a falar. Será uma mais valia para a democracia e discussão de ideias. Por muito que não goste das posições liberais da Sra. Leite, tenho pelo menos a ideia de que é alguém que fala o que pensa e não se deixa manipular por fazedores de imagem.
  2. Mais uma vez, numas eleições a nível nacional, Santana Lopes é cilindrado. Agora dentro do próprio partido. Por alguma razão João Jardim só concorreria se tivesse a certeza que ia ganhar. Porque saberia que teria mais em comum com Santana Lopes do que o apoio à sua candidatura. Iria ser também cilindrado. Será que é desta que iremos deixar de ouvir falar no menino-herói? Infelizmente penso que não...

sábado, abril 19, 2008

Lobos Loucos

Afinal, ouvi mal as declarações do Sr. Jardim. Onde ele disse loucos, eu ouvi lobos. Mas afinal a quem interessa o que diz o Sr. Jardim?

terça-feira, abril 15, 2008

Hienas

Mais uma vez, o Sr. Jardim nos presenteia com a sua má educação e verborreia própria de um ditadorzeco legitimado pelas "autonomia" Madeirense. Assim, ficamos a saber que afinal não há risco de que os Lobos estejam em risco de extinção em Portugal, porque existe uma reserva ecológica na assembleia regional da Madeira.

Só me pergunto se não haverá nos orgãos centrais do país ninguém que ponha a mão nisto. Por muito menos, já chegou o presidente da república a advertir o governo de Lisboa, chamando-o à atenção sobre atitudes e/ou medidas que não acharia correctas.

Mas neste caso parece que o Sr. Jardim goza de uma impunidade total. Todo o poder central, de Belém a São Bento se curvam perante os seus 30 anos de governo. Em qualquer outro lugar, 30 anos de governo seriam considerados, mesmo com a legitimidade eleitoral, no mínimo suspeitos. Mas na Madeira já não é assim. Até Jaime Gama, que considerava o Sr. Jardim como um Bokassa, agora já o felicita pelo seu governo. Se calhar porque se revê em algumas das suas medidas de controle da sociedade, quem sabe.

O que me dá esperança é saber que, daqui a alguns anos, quando o Sr. Jardim estiver para abandonar o poder, o seu partido não se irá revelar como uma alcateia de Lobos, mas sim como um bando de Hienas...

terça-feira, abril 08, 2008

Chama unânime

Neste momento, toda a comoção à volta do Tibete e dos Jogos Olimpicos em Pequim parece-me francamente forçada. Parece que o mundo ocidental procura uma catarse de algo e encontra no Tibete e na China uma forma de não pensar nos seus problemas.

Esta unanimidade à volta das questões do Tibete, como qualquer outra, assusta-me. E obriga-me a tentar ver o outro lado do prisma. Nem que seja para sentir que o lado certo é o lado unânime.

O Tibete, era uma província chinesa no século XVIII. Foi no início do século XX que os Ingleses fizeram um acordo com a dinastia Qing (dinastia chinesa governante do Tibete), em que concordavam, em troca de uma renda, não ocupar o Tibete. Não sem antes massacrarem algumas centenas de tibetanos na sua capital, Lhasa. A partir da primeira guerra mundial, e do desmembramento da China, o Tibete passou a ser independente, embora sem governo secular próprio, e com uma sociedade fortemente dominada pelos mosteiros budistas. Em suma, uma Teocracia absolutista. A partir de 1951, a China invadiu o Tibete, re-anexando o território e provocando a fuga do actual Dalai Lama para a Índia. Actualmente o tibete é palco de uma elevada repressão da China sobre os monges budistas. No entanto, o Dalai Lama não defende a independência do Tibete, mas apenas a sua maior autonomia.

A ideia que retiro da situação actual é a de que o Tibete foi parte da China durante cerca de 250 dos últimos 300 anos, e nunca deu mostras, como estado independente, de ser algo mais que o resultado do interesse dos monges budistas em utilizar uma sociedade unicamente para o sustento das suas congregações. Pensando bem, um Tibete independente neste momento seria um segundo vaticano. Só que bem mais pobre e atrasado. Como os seus vizinhos Butão e Nepal que continuam a lutar (ainda que independentes) pelo acesso à completa liberdade e democracia.

Claro que nada disto justifica a violência e repressão continuadas da China. Mas pelo menos permite ver outra face do prisma...

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Menina Bonita

António Costa veio queixar-se de que trataram mal a sua lei das finanças locais, quando o tribunal de contas chumbou o pedido de empréstimo da CML para pagar divídas a fornecedores.
Pensava que António Costa era o Pai da lei, mas afinal é a Mãe. E uma Mãe que não confia na educação que deu à sua filha, nem naqueles que lidam com ela.
Se António Costa soubesse ter criado convenientemente a sua querida Lei, talvez ela tivesse criado mecanismos de defesa, que não deixassem espaço para que outros a tratassem mal.

O agora presidente da CML está a provar do seu próprio remédio. Vê usada contra si uma lei que ele próprio criou, concerteza com a melhor das intenções, para endireitar um mundo por vezes desviante que é o das finanças autárquicas. Nunca imaginou é que estaria um dia do outro lado e que veria a sua filha virar-se contra ele.

Acontece nas melhores famílias.

sábado, fevereiro 16, 2008

Independência?

1 – Ramos horta provou da forma mais amarga o seu remédio, quando se sobrepôs a uma decisão judicial que mandava prender o “major” Reinado, dando-lhe um salvo-conduto. Timor-Leste terá futuro? Quantos anos serão necessários para formar quadros com competência para administrar o país? Dentro da confusão reinante, imagino que muitos. Mas há potências regionais a quem convém estas situações de modo a aumentar o seu poder militar na ilha. O objectivo é um país calmo e controlado, de todas as formas.

2 – O Kosovo prepara-se para ser um novo Timor-Leste. Se pela Ásia, mandam os interesses da Austrália no petróleo, nos Balcãs mandam os interesses do crime organizado e do tráfico de droga, que necessitam de um estado independente para poder prosseguir os seus negócios sem influências externas. O Kosovo não tem futuro enquanto estado independente. Parece que os países da União Europeia têm medo de dizer isto. Não nos podemos esquecer que foi a inabilidade da União Europeia em lidar com as tensões na ex-jugoslávia (nomeadamente com a independência da Croácia) que ajudou à guerra da Jugoslávia…

domingo, janeiro 27, 2008

Pela boca morre o crocodilo

Morreu hoje o ex-ditador Suharto, que governou a Indonésia durante 31 anos, estabelecendo um regime ditatorial de perseguição feroz aos opositores, que foi consubstanciado, por exemplo, na morte de milhões de comunistas e de sino-indonésios. Sobre a sua tomada do poder, a própria CIA disse num dos seus relatórios que "Em termos de números de mortes, os massacres anti-PKI (partido comunista da Indonésia) na Indonésia estão cotados como um dos piores genocídios do século 20".
Como o exemplo que nos toca bem de perto, só em Timor-Leste foi assassinado cerca de um terço da população, ou seja 200 000 pessoas.
Para além da sua violência e crueldade, o governo de Suharto caracterizou-se também por elevados níveis de corrupção e de aproveitamento próprio do dinheiro do país, com a estimativa de que a sua familia teria acumulado cerca de 15 mil milhões de dólares.

Ora, o que é estranho após a morte desta figura acabam por ser os elogios à sua actuação vindos dos dois principais dirigentes de Timor-Leste. Tanto Ramos Horta como Xanana Gusmão vieram hoje a público elogiar a forma como Suharto foi capaz de desenvolver a Indonésia, tendo em conta a dificuldade de unir realidades tão díspares. Já o facto de o desenvolvimento ser feito à custa da opressão de quaisquer oponentes é colocado em segundo plano pelas duas principais figuras da política Timorense da actualidade.

Isto seria hilariante se não fosse triste... O principal argumento para a ocupação de Timor pela Indonésia foi sempre o do desenvolvimento do território. Foi contra a ocupação da Indonésia que Ramos Horta e Xanana Gusmão lutaram e agora vêm a público defender o principal argumento da potência ocupante.

Das duas uma, ou estas duas figuras são completamente loucas ou estão a preparar alguma parecida...

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Braço torcido

Em diferente grau, sofro do mesmo mal que o meu Pai. Quando posto perante uma situação em que me demonstram por A+B que a minha opção está errada, eu posso mudar a minha opinião, mas nunca admito que estou errado. Sinto um bloqueio mental em relação ao dar o braço a torcer. Sinto que é um ataque pessoal e defendo a minha honra com unhas e dentes.

Penso que é o que se passa actualmente com Sócrates e Lino. Reconheceram internamente que afinal estavam a tomar a opção errada, e que deveriam optar por colocar o novo aeroporto noutro local. No entanto, não lhes peçam para reconhecer que erraram. Já é suficiente terem reconhecido a evidência e alterado a sua posição. Não lhes peçam mais.

É claro que irão dizer que os nossos líderes deveriam ser homenzinhos e reconhecer que estão errados. Mas precisamente por estar nas posições em que estão é que não lhes é possível reconhecer que estavam enganados e que mudaram a sua posição. Não poderiam continuar na posição em que se encontram. Se Sócrates ou Lino tivessem admitido que se enganaram, teriam de se demitir de imediato, pois não teriam condições de continuar no governo.

Por outro lado, há quem ache que desde o início que o governo queria esta opção para o novo aeroporto, tendo montado todo este circo mediático apenas para obter o maior apoio possível dos lobbies e da população. Mas é só teoria da conspiração...

terça-feira, janeiro 15, 2008

Mais do mesmo

Alberto João Jardim volta ao mesmo. Em mais umas inenarráveis declarações, Jardim declara que tem sempre lutado contra as tendências independentistas dos Madeirenses (mas não explica como), ao mesmo tempo que coloca a hipótese de, num eventual impulso irreprimível do povo do arquipélago para se tornar independente, se colocar ao lado dos seus conterrâneos, numa possível separação de Portugal.

A mim não me escandaliza a hipótese de uma Madeira independente. Seria um alívio para o nosso orçamento de estado, ao mesmo tempo que seria um impulso para que os Madeirenses tomassem conta de quem os lidera... O que me faz alguma pena é que uma Madeira independente seria um estado pária, completamente dependente de outros estados e da sua contribuição, bem como entregue a elites dirigentes corruptas e com tendências fascizantes.

A única coisa que me faria pena era o Cristiano Ronaldo deixar de representar a nossa selecção, para passar a equipar de Azul e Amarelo. Mas acho que era uma troca benéfica para o resto do país....

terça-feira, janeiro 08, 2008

Isto é um tratado...

Acabei de ouvir as notícias sobre a forma de aprovação do tratado europeu, e confesso que estou cada vez mais espantado (atarantado seria a expressão correcta).

Não que eu seja actualmente um defensor acérrimo do referendo, depois dos péssimos exemplos de cidadania que (não) tivemos nos referendos já efectuados. Por mim, até não vejo mal em que não haja referendo neste assunto. Sempre é algum dinheiro que se poupa, evitando-se mais uma mancha no currículo da nossa democracia.

O que me espanta são os argumentos utilizados para justificar a ratificação do tratado por via da assembleia da república.

Primeiro temos o argumento quase salazarento de que o nosso primeiro-ministro quer efectuar um referendo, mas que apenas não o faz porque o partido não o deixa (coitadinho, até eu tenho uma lágrima ao canto do olho), embora o partido tenha prometido na campanha que iria fazer um referendo sobre o tratado europeu. Ah não, dizem eles, o tratado já não se chama constitucional. Agora é tratado de Lisboa, portanto é completamente diferente (continuam os argumentos brilhantes).

O nosso presidente da república (igualmente um eminente democrata) também ajuda à festa. Para ele, como o tratado é de Lisboa, temos de dar o exemplo e aprová-lo já. Pelo superior interesse nacional. Só não explica de quem é o interesse de ver um tratado aprovado de imediato e sem discussão. Mas acho que conseguimos perceber. Não dava jeito a qualquer um deles (PR ou PM) sujeitar-se a essa maçada que é descobrir que mais de metade da população se está nas tintas e correr o risco até de perder a votação. Não podemos correr o risco de entrar em democracias...

Com tantos argumentos e tão válidos, admira-me que não haja um maior reconhecimento pelos nossos amados líderes. Somos mesmo ingratos...

terça-feira, janeiro 01, 2008

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João Afonso - Missangas
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Jostein Gaarder - O Mundo de Sofia
Pepetela - O Cão e os Caluandas
José Saramago- As Intermitências da Morte
Chico Buarque - Budapeste