terça-feira, abril 08, 2008

Chama unânime

Neste momento, toda a comoção à volta do Tibete e dos Jogos Olimpicos em Pequim parece-me francamente forçada. Parece que o mundo ocidental procura uma catarse de algo e encontra no Tibete e na China uma forma de não pensar nos seus problemas.

Esta unanimidade à volta das questões do Tibete, como qualquer outra, assusta-me. E obriga-me a tentar ver o outro lado do prisma. Nem que seja para sentir que o lado certo é o lado unânime.

O Tibete, era uma província chinesa no século XVIII. Foi no início do século XX que os Ingleses fizeram um acordo com a dinastia Qing (dinastia chinesa governante do Tibete), em que concordavam, em troca de uma renda, não ocupar o Tibete. Não sem antes massacrarem algumas centenas de tibetanos na sua capital, Lhasa. A partir da primeira guerra mundial, e do desmembramento da China, o Tibete passou a ser independente, embora sem governo secular próprio, e com uma sociedade fortemente dominada pelos mosteiros budistas. Em suma, uma Teocracia absolutista. A partir de 1951, a China invadiu o Tibete, re-anexando o território e provocando a fuga do actual Dalai Lama para a Índia. Actualmente o tibete é palco de uma elevada repressão da China sobre os monges budistas. No entanto, o Dalai Lama não defende a independência do Tibete, mas apenas a sua maior autonomia.

A ideia que retiro da situação actual é a de que o Tibete foi parte da China durante cerca de 250 dos últimos 300 anos, e nunca deu mostras, como estado independente, de ser algo mais que o resultado do interesse dos monges budistas em utilizar uma sociedade unicamente para o sustento das suas congregações. Pensando bem, um Tibete independente neste momento seria um segundo vaticano. Só que bem mais pobre e atrasado. Como os seus vizinhos Butão e Nepal que continuam a lutar (ainda que independentes) pelo acesso à completa liberdade e democracia.

Claro que nada disto justifica a violência e repressão continuadas da China. Mas pelo menos permite ver outra face do prisma...

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