quinta-feira, dezembro 19, 2013

Homenzinhos

Em Janeiro de 1994 quando Tomislav Ivic, então na sua segunda passagem no FC Porto, foi substituído por Bobby Robson, as coisas não estavam famosas. A equipa marcava passo no campeonato e as exibições não agradavam aos adeptos. Após uma vitória em Aveiro, chegou a notícia. Ivic saía do clube. Mas não foi anunciado como um despedimento. Foi sim anunciado que Ivic iria abraçar um novo desafio, junto da FIFA, no seu país natal. Toda a gente percebeu que não seria bem assim. Confrontado com a hipótese de contratar Robson, Pinto da Costa desfez-se à primeira oportunidade de Ivic, para alívio de toda a nação portista. Foi uma tentativa de dourar a pílula. Despedindo um treinador, sem dar o braço a torcer. Sem admitir o erro da sua contratação ou os fracos resultados do seu desempenho.

Ora, não deixa de ser estranho que o secretário de estado Hélder Rosalino venha invocar razões pessoais para sair nesta altura do governo. É curioso que um secretário de estado quase com poderes de ministro escolha precisamente o dia em que é anunciada a decisão do Tribunal Constitucional de chumbar a convergência das pensões para se demitir. Uma decisão que anula uma das suas principais obras no governo actual. É óbvio que Rosalino não se demite por razões pessoais. Demite-se pela decisão do tribunal constitucional. Mas não quer dar o braço a torcer.

Ora, se no mundo do futebol uma situação deste tipo é caricata, mas compreensível, no mundo da política, que se pretende bem mais sério, é inadmissível. Espera-se de membros do governo que assumam as suas posições até às últimas consequências. Que neste tipo de casos se demitam porque continuam a acreditar naquilo que queriam concretizar mas que não o podem (felizmente) fazer por ser manifestamente contra a constituição em vigor. No fundo, que sejam homenzinhos.

Ora, Hélder Rosalino refugia-se em razões pessoais e sai de cena. Dê-se pelo menos o mérito de tomar a decisão de sair. Talvez fosse já hora de os seus superiores hierárquicos tomarem a mesma decisão. Ou, visto que se mostram tão relutantes, que alguém em Belém tomasse essa decisão por eles. Mas nem aí nem em São Bento moram homenzinhos.

terça-feira, setembro 20, 2011

Justiça de Desgaste Rápido

Embora trabalhe na área da banca, o meu conhecimento do negócio bancário é básico. Dessa forma, para ganhar mais conhecimento ando em formação no IFB sobre as áreas elementares de negócio. Cheques, letras, livranças, produtos financeiros, diversos tipos de mercado, etc...

Para além de aprender o bê-à-bá sobre esses assuntos, vou aprendendo também algumas manhas que já foram utilizadas ao longo dos tempos pelos clientes para enganar os bancos (e vice-versa claro). Várias situações em que subterfúgios das leis e dos regulamentos foram aproveitados em proveito próprio, mas também situações que podem ser usadas como exemplo pedagógico neste tipo de formação.

Infelizmente, uma situação que perpassa em muitos destes casos é a extrema lentidão e ineficácia da nossa justiça. Situações que duram anos e anos arrastadas em tribunal quando deveriam ser resolvidas no curto prazo, muitas vezes devido à sua premência. Estes casos acarretam uma descrença generalizada no sistema judicial, o que leva a acreditar que é muitas vezes inútil o recurso aos tribunais, tanto ao nível do tempo como ao nível do custo. A maior parte dos cidadãos do país não se encontra disponível para gastar enormes quantidades de tempo e dinheiro (para além do desgaste psicológico) para perseguir uma qualquer questão anos a fio nas barras dos nossos tribunais.

Com esta situação na justiça nunca pode o nosso país ser considerado um verdadeiro estado de direito. É impossível que os cidadãos se sintam protegidos quando sabem que é praticamente inútil recorrer aos tribunais. Burlas de pequena dimensão, pequenas dívidas, casos de difamação, agressões, insultos, conflitos de consumo são casos que pensamos automaticamente não valer a pena levar ao tribunal, pelos diversos custos envolvidos na sua prosecussão. E assim vão saíndo impunes os burlões, os caloteiros e os demais chicos espertos do país que continuam a exercer alegremente as suas actividades. E contando também com os grandes "tubarões" do país que, tendo acesso aos melhores advogados, lá vão seguindo por entre as brechas do sistema e dos prazos, dos esquemas dilatórios e das prescrições.

Não havendo confiança que os prevaricadores serão punidos e os prejudicados ressarcidos em tempo útil, como podemos ter confiança no bom funcionamento do nosso país? Não podemos. Só podemos rezar para que não nos aconteça a nós...

domingo, janeiro 02, 2011

Chico-Espertice de Sua Excelência

Ontem, conforme é habitual no dia 1 de Janeiro, assistimos à mensagem de Ano Novo de Sua Excelência o Presidente da República Portuguesa.

Antes e depois da intervenção presidencial, é habitual que se escute o Hino Nacional e que este seja acompanhado pelo outro símbolo do nosso país, a Bandeira Nacional.
O normal é, aliás, que o ecrã esteja completamente preenchido com a Bandeira Nacional, enquanto toca o Hino.

Ora, o actual Presidente decidiu arredar a Bandeira Nacional para ocupar apenas metade do ecrã, ocupando a restante área com um mini-filme de promoção pessoal , em que o sujeito se mostra na acção de condecorar pessoas, de inspeccionar tropas, etc, etc

Quando estamos em época de pré-campanha eleitoral, em que o Presidente actual é também um candidato, não deixa de ser curiosa (reveladora, aliás) esta opção de utilizar os meios da presidência para se auto-promover de forma encapotada.

É certo que ninguém vai mudar o seu voto, por causa desta promoçãozeca, mas não deixa de ser mais uma chico-espertice, de resto habitual no Sr. Silva.

terça-feira, dezembro 21, 2010

Re-Encarnação Limitada

Acabei de ver a entrevista de Carlos Encarnação a Mário Crespo, em que o ex-Presidente da Câmara de Coimbra explica porque se demite do seu mandato.

Na entrevista Carlos Encarnação explica que sente que o governo não deixa que se concretizem os projectos referentes à cidade, causando diversos problemas. Que se demite como uma forma de protesto contra o estado das coisas, como alguém que se sente injustiçado e quer dar um sinal de que as coisas não podem ser assim. Claro que para Mário Crespo este tipo de convidados é o ideal, porque se pode dizer mal do governo, do estado do país, etc etc

Lá para o meio da conversa Carlos Encarnação, enfatizando o seu estado de descontentamento, explica que para sair, é mesmo por uma razão forte, já que está lá há bastante tempo, tendo já sido eleito com maioria absoluta por 3 vezes.

Pára tudo! Eleito por três vezes? Está explicado o amuo. Chama-se "Limitação de Mandatos". Enquanto se dá umas ferroadas no poder central, que por acaso é do PS, aproveita-se para deixar no poder o seu sucessor, para que este ganhe visibilidade suficiente tendo em vista as próximas eleições. Aliás, no seguimento, lá está a identificação do sucessor, o elogio da competência, etc etc

Quando os moralizadores nos querem tomar por parvos, estamos bem entregues...

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Mito Oportunista

Numa discussão recente no Facebook, reparei que para os desencantados com o momento político actual, Sá Carneiro aparece neste momento como um D. Sebastião carismático que viria resolver todos os problemas políticos do país.

Esta esperança é baseada nos recentes esforços de endeusamento mediático, encimados por estes dias numa série de documentários biográficos que, como normalmente, são feitos para dar uma imagem perfeita do retratado, ainda para mais quando já morreu, e em funções públicas.

Para os fazedores de mitos, Sá Carneiro surge como D. Sebastião, Sidónio Pais, JFK ou mesmo James Dean. Teve um percurso ascendente vitorioso e meteórico, seguido de uma morte trágica, ainda no auge e sem ter tempo de fazer grandes disparates enquanto primeiro-ministro. Ou seja, morreu na altura ideal para não poder sofrer mais contestação.

Sá carneiro foi um politico tão bom ou pior, quando comparado com os que temos agora. Aos que agora o lembram como um grande estadista, é preciso dizer que ele era um político como os outros. Oportunista, inconstante ou desistente, conforme lhe convinha. Oportunista e inconstante pelos seus vários ziguezagues políticos, consoante mudava de opinião. Desistente por ter várias vezes renunciado aos cargos para os quais foi eleito. Enquanto líder do PPD, e ao contrário da imagem de unidade que agora se quer fazer passar, tinha metade do partido a tentar derrubá-lo. Enquanto primeiro-ministro, embora estivesse à menos de um ano no cargo, preparava já a sua demissão.

E ainda tem o grande defeito de ter trazido para a política activa, como seu ministro das finanças, um dos principais responsáveis, nos vários cargos em que ocupou, do estado em que o nosso país se encontra actualmente.

É claro que à direita nacional dá jeito nesta época de falta de personagens carismáticas aclamar uma figura que a unifique. Só dessa forma se explica que tenham sido necessários 30 anos para que PSD e CDS comemorassem juntos o mito de Sá Carneiro. Porque agora lhes dá jeito. De outra forma, seria apenas um rodapé nos discursos de um ou outro líder do PPD/PSD com o mesmo carisma que ele.

terça-feira, novembro 30, 2010

Direita Chic?

Entrevistado por Maria Flor Pedroso, no programa da Antena1 "Rádio República" (programa excelente, já agora), Jaime Nogueira Pinto, "esclarecido" direitista (diz-se liberal em politicamente correcto, não é?) da nossa praça dissertava sobre as diversas figuras da revolução republicana.
Em certo ponto, JNP comparava não sei que figura daquele tempo como sendo um "Ké Guevara".
Não tendo percebido bem (como acho que 90% dos ouvintes), Flor Pedroso perguntou "quem?".
JNP voltou a insistir na provocação "Ké Guevara", da qual não houve continuação por parte da entrevistadora.
Ora, se em Castelhano, tal como em Português, "Ché", se lê como se escreve (aproximadamente "Txé", só podemos concluir uma coisa:
Por debaixo de uma capa de pseudo-direita-cool, JNP não passa de um ressabiado.

domingo, novembro 14, 2010

Esquizofrenia Vermelha (e Verde?)

Este assunto já foi escrito por várias pessoas, e não se trata de uma critica gratuita, mas antes de uma reflexão que venho a maturar já há alguns anos. Tenho evitado escrever sobre futebol, mas acho que este assunto vai para além do pontapé-na-bola, e diz algo sobre a nossa sociedade em geral.
Reportando-nos aos últimos anos, a massa de adeptos do benfica tem tido comportamentos interessantes. Quando a época começa, o entusiasmo é geral, a equipa é a melhor do mundo e "este (esse) ano é que é". Todas as chamadas para assentar os pés na terra são despachadas como sendo heresias perigosas. Depois, com o avançar da época e os primeiros desaires, o desânimo instala-se, os jogadores são os piores do mundo, o treinador não presta e cedo lhe dão guia de marcha (pelo menos afectivo) para ir pregar para outra freguesia.
É uma atitude entendível, mas fosse a velocidade com que passam do 80 para o 8, às vezes no espaço de tempo que leva uma bola a bater na trave.
Outras vezes, como no ano passado, a equipa começa bem e continua a jogar bem, produzindo grandes resultados e exibições. Aí, o entusiasmo mantém-se e transforma-se em empáfia. Qualquer palavra sobre futebol acaba com a frase "carrega, benfica". Todos os adversários são menosprezados e tratados com o desprezo de quem se acha com o direito divino a ganhar. Dizem-se coisas impensáveis e, pior que isso, fazem-se. O clube lá ganha o campeonato, faz-se a festa nacional e internacional e lá se acalmam as hostes.
A euforia transporta-se para a época seguinte, como esta época, e os adeptos julgam-se que a equipa é já a melhor do mundo, capaz de ombrear com qualquer tubarão europeu. Os sonhos agigantam-se e pensam já em ganhar a Liga dos Campeões. Até que a época a sério começa e novamente, aos primeiros dissabores, as coisas afinam. Os mesmos jogadores e o mesmo treinador que na época anterior eram os melhores do mundo, passam a ser dispensáveis e a precisar de ser trocados. As coisas pioram quando se é goleado por um rival. Aí, até o treinador que até há pouco tempo encarnava a mística benfiquista, passa a ser suspeito de estar ao serviço do tenebroso presidente adversário. O estado de espírito chega ao mínimo possível.
Eis senão quando, passando uma semana, basta jogar em casa com a pior defesa do campeonato e tudo volta ao entusiasmo generalizado. Os adjectivos de "Mágico" e "Maravilhoso" voltam a ser empregues sem travão.
O impressionante desta montanha-russa de emoções é que representam um estado de espírito de um grupo sem qualquer tipo de confiança na instituição que o representa. Que é mais ou menos o que acontece em Portugal. Oram façam lá a reflexão...

segunda-feira, outubro 25, 2010

WikiLeaks

Vi aqui uma entrevista com o líder do WikiLeaks, o Australiano Julian Assange. Entrevista muito interessante, sobre os métodos do que se pode chamar um novo tipo de jornalismo. Um verdadeiro jornalismo de investigação, pelo menos aparentemente independente de interesses exteriores.
Pelo que nos é dado ler, a WikiLeaks tem contribuído para desmascarar casos de abusos em todo o mundo, especialmente praticados pelos mais poderosos.
Muito esclarecedor é a forma como Assange divide o mundo em 3 blocos "imperiais" de fornecedores de informação e de armamento. EUA, Rússia e China. e como todos os países, por forma a manter-se, devem manter-se numa destas órbitas. É uma nova definição de impérios, não baseada em posse do território, mas na posse de informação militar.
No que respeita à definição de jornalismo, é confirmada a minha ideia de que, nos media tradicionais, o jornalismo de investigação foi completamente abandonado por medo das represálias jurídicas. Criou-se um clima de que não vale a pena investigar os assuntos a fundo, por medo dos processos em tribunal.
E principalmente que actualmente os media são principalmente consumidores das notícias fornecidas por centrais de comunicação (estatais ou não), que fornecem as notícias que querem que sejam divulgadas, dentro dos seus interesses. O que pensamos ser trabalhos de jornalismo, são apenas cópias de informações já selecionadas e pré-escritas. Sempre com o beneplácito das direcções de informação e, claro, com a aprovação dos interesses económicos que os financiam.
Mas melhor do que eu possa dizer, o melhor é mesmo ler a entrevista.

quinta-feira, outubro 14, 2010

Viva Chile, Mierda!

O resgate dos mineiros Chilenos é, para mim, uma história de renovação na crença no ser humano.
A forma como os mineiros se conseguiram organizar numa situação de desespero quase total, concertando vontades e apoiando-se para sobreviver naquelas condições é inspiradora. É um exemplo para todos nós que, mesmo nas situações mais críticas, se mantivermos a calma, conseguimos chegar aos nossos objectivos. Pessoas com personalidades vincadas e bem diferentes, souberam unir-se sob uma liderança forte e sobreviveram.
Ainda me ocorre que, o facto de este acontecimento ocorrer num país Sul Americano, de língua espanhola, poderia levar a pensar que as coisas iriam ser tratadas com desorganização. Imaginava-se já o desdém com que iam ser tratadas as acções a tomar pelas autoridades Chilenas, até porque toda a situação se verificou porque a própria minha funcionava à margem das regras elementares de segurança.
No entanto, o Chile revelou-se como um país evoluído. Deverá ser, em termos económicos e sociais, o país mais evoluído da América do Sul. Arrisco-me a dizer que se compara a um mediano país europeu.
E isso verificou-se na organização dos seus técnicos para resolver esta crise. E já se tinha verificado no sismo e tsunami verificados antes.
Conjugando o que tinham com o apoio de outros países (EUA ou Áustria por exemplo), foi possível criar uma solução que permitiu um final feliz. Não houve medo de apostar nos recursos internos, mas também não houve problema em aceitar a ajuda exterior. Isto é típico de um povo sem complexos,mesmo que não seja o que esperaríamos de um pais hispânico...

terça-feira, setembro 21, 2010

O regresso do Amândio

Acabei de ouvir o distinto Sr. Amândio de Carvalho dizer, acerca das acusações de Carlos Queiroz, que já anda nisto há 40 anos e que portanto, tem já muita experiência e as costas largas...

Realmente é verdade. Há poucos dias, lia algumas coisas históricas acerca do caso Saltillo, aquando da participação portuguesa no Mundial do México em 1986. Ora, a opinião dos jogadores era na altura unânime sobre quem era o principal causador dos problemas na selecção. Essa pessoa estaria, entre outras coisas, especialmente dedicada a silenciar os protestos dos jogadores junto da federação, o que motivou os posteriores problemas graves ocorridos por lá.

E quem era essa pessoa? É verdade, Amândio de Carvalho... A vida dá muitas voltas, mas as pessoas são sempre as mesmas...