domingo, janeiro 27, 2008

Pela boca morre o crocodilo

Morreu hoje o ex-ditador Suharto, que governou a Indonésia durante 31 anos, estabelecendo um regime ditatorial de perseguição feroz aos opositores, que foi consubstanciado, por exemplo, na morte de milhões de comunistas e de sino-indonésios. Sobre a sua tomada do poder, a própria CIA disse num dos seus relatórios que "Em termos de números de mortes, os massacres anti-PKI (partido comunista da Indonésia) na Indonésia estão cotados como um dos piores genocídios do século 20".
Como o exemplo que nos toca bem de perto, só em Timor-Leste foi assassinado cerca de um terço da população, ou seja 200 000 pessoas.
Para além da sua violência e crueldade, o governo de Suharto caracterizou-se também por elevados níveis de corrupção e de aproveitamento próprio do dinheiro do país, com a estimativa de que a sua familia teria acumulado cerca de 15 mil milhões de dólares.

Ora, o que é estranho após a morte desta figura acabam por ser os elogios à sua actuação vindos dos dois principais dirigentes de Timor-Leste. Tanto Ramos Horta como Xanana Gusmão vieram hoje a público elogiar a forma como Suharto foi capaz de desenvolver a Indonésia, tendo em conta a dificuldade de unir realidades tão díspares. Já o facto de o desenvolvimento ser feito à custa da opressão de quaisquer oponentes é colocado em segundo plano pelas duas principais figuras da política Timorense da actualidade.

Isto seria hilariante se não fosse triste... O principal argumento para a ocupação de Timor pela Indonésia foi sempre o do desenvolvimento do território. Foi contra a ocupação da Indonésia que Ramos Horta e Xanana Gusmão lutaram e agora vêm a público defender o principal argumento da potência ocupante.

Das duas uma, ou estas duas figuras são completamente loucas ou estão a preparar alguma parecida...

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Braço torcido

Em diferente grau, sofro do mesmo mal que o meu Pai. Quando posto perante uma situação em que me demonstram por A+B que a minha opção está errada, eu posso mudar a minha opinião, mas nunca admito que estou errado. Sinto um bloqueio mental em relação ao dar o braço a torcer. Sinto que é um ataque pessoal e defendo a minha honra com unhas e dentes.

Penso que é o que se passa actualmente com Sócrates e Lino. Reconheceram internamente que afinal estavam a tomar a opção errada, e que deveriam optar por colocar o novo aeroporto noutro local. No entanto, não lhes peçam para reconhecer que erraram. Já é suficiente terem reconhecido a evidência e alterado a sua posição. Não lhes peçam mais.

É claro que irão dizer que os nossos líderes deveriam ser homenzinhos e reconhecer que estão errados. Mas precisamente por estar nas posições em que estão é que não lhes é possível reconhecer que estavam enganados e que mudaram a sua posição. Não poderiam continuar na posição em que se encontram. Se Sócrates ou Lino tivessem admitido que se enganaram, teriam de se demitir de imediato, pois não teriam condições de continuar no governo.

Por outro lado, há quem ache que desde o início que o governo queria esta opção para o novo aeroporto, tendo montado todo este circo mediático apenas para obter o maior apoio possível dos lobbies e da população. Mas é só teoria da conspiração...

terça-feira, janeiro 15, 2008

Mais do mesmo

Alberto João Jardim volta ao mesmo. Em mais umas inenarráveis declarações, Jardim declara que tem sempre lutado contra as tendências independentistas dos Madeirenses (mas não explica como), ao mesmo tempo que coloca a hipótese de, num eventual impulso irreprimível do povo do arquipélago para se tornar independente, se colocar ao lado dos seus conterrâneos, numa possível separação de Portugal.

A mim não me escandaliza a hipótese de uma Madeira independente. Seria um alívio para o nosso orçamento de estado, ao mesmo tempo que seria um impulso para que os Madeirenses tomassem conta de quem os lidera... O que me faz alguma pena é que uma Madeira independente seria um estado pária, completamente dependente de outros estados e da sua contribuição, bem como entregue a elites dirigentes corruptas e com tendências fascizantes.

A única coisa que me faria pena era o Cristiano Ronaldo deixar de representar a nossa selecção, para passar a equipar de Azul e Amarelo. Mas acho que era uma troca benéfica para o resto do país....

terça-feira, janeiro 08, 2008

Isto é um tratado...

Acabei de ouvir as notícias sobre a forma de aprovação do tratado europeu, e confesso que estou cada vez mais espantado (atarantado seria a expressão correcta).

Não que eu seja actualmente um defensor acérrimo do referendo, depois dos péssimos exemplos de cidadania que (não) tivemos nos referendos já efectuados. Por mim, até não vejo mal em que não haja referendo neste assunto. Sempre é algum dinheiro que se poupa, evitando-se mais uma mancha no currículo da nossa democracia.

O que me espanta são os argumentos utilizados para justificar a ratificação do tratado por via da assembleia da república.

Primeiro temos o argumento quase salazarento de que o nosso primeiro-ministro quer efectuar um referendo, mas que apenas não o faz porque o partido não o deixa (coitadinho, até eu tenho uma lágrima ao canto do olho), embora o partido tenha prometido na campanha que iria fazer um referendo sobre o tratado europeu. Ah não, dizem eles, o tratado já não se chama constitucional. Agora é tratado de Lisboa, portanto é completamente diferente (continuam os argumentos brilhantes).

O nosso presidente da república (igualmente um eminente democrata) também ajuda à festa. Para ele, como o tratado é de Lisboa, temos de dar o exemplo e aprová-lo já. Pelo superior interesse nacional. Só não explica de quem é o interesse de ver um tratado aprovado de imediato e sem discussão. Mas acho que conseguimos perceber. Não dava jeito a qualquer um deles (PR ou PM) sujeitar-se a essa maçada que é descobrir que mais de metade da população se está nas tintas e correr o risco até de perder a votação. Não podemos correr o risco de entrar em democracias...

Com tantos argumentos e tão válidos, admira-me que não haja um maior reconhecimento pelos nossos amados líderes. Somos mesmo ingratos...

terça-feira, janeiro 01, 2008

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Jarabe de Palo - ¿Grandes Exitos?
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