terça-feira, dezembro 21, 2010

Re-Encarnação Limitada

Acabei de ver a entrevista de Carlos Encarnação a Mário Crespo, em que o ex-Presidente da Câmara de Coimbra explica porque se demite do seu mandato.

Na entrevista Carlos Encarnação explica que sente que o governo não deixa que se concretizem os projectos referentes à cidade, causando diversos problemas. Que se demite como uma forma de protesto contra o estado das coisas, como alguém que se sente injustiçado e quer dar um sinal de que as coisas não podem ser assim. Claro que para Mário Crespo este tipo de convidados é o ideal, porque se pode dizer mal do governo, do estado do país, etc etc

Lá para o meio da conversa Carlos Encarnação, enfatizando o seu estado de descontentamento, explica que para sair, é mesmo por uma razão forte, já que está lá há bastante tempo, tendo já sido eleito com maioria absoluta por 3 vezes.

Pára tudo! Eleito por três vezes? Está explicado o amuo. Chama-se "Limitação de Mandatos". Enquanto se dá umas ferroadas no poder central, que por acaso é do PS, aproveita-se para deixar no poder o seu sucessor, para que este ganhe visibilidade suficiente tendo em vista as próximas eleições. Aliás, no seguimento, lá está a identificação do sucessor, o elogio da competência, etc etc

Quando os moralizadores nos querem tomar por parvos, estamos bem entregues...

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Mito Oportunista

Numa discussão recente no Facebook, reparei que para os desencantados com o momento político actual, Sá Carneiro aparece neste momento como um D. Sebastião carismático que viria resolver todos os problemas políticos do país.

Esta esperança é baseada nos recentes esforços de endeusamento mediático, encimados por estes dias numa série de documentários biográficos que, como normalmente, são feitos para dar uma imagem perfeita do retratado, ainda para mais quando já morreu, e em funções públicas.

Para os fazedores de mitos, Sá Carneiro surge como D. Sebastião, Sidónio Pais, JFK ou mesmo James Dean. Teve um percurso ascendente vitorioso e meteórico, seguido de uma morte trágica, ainda no auge e sem ter tempo de fazer grandes disparates enquanto primeiro-ministro. Ou seja, morreu na altura ideal para não poder sofrer mais contestação.

Sá carneiro foi um politico tão bom ou pior, quando comparado com os que temos agora. Aos que agora o lembram como um grande estadista, é preciso dizer que ele era um político como os outros. Oportunista, inconstante ou desistente, conforme lhe convinha. Oportunista e inconstante pelos seus vários ziguezagues políticos, consoante mudava de opinião. Desistente por ter várias vezes renunciado aos cargos para os quais foi eleito. Enquanto líder do PPD, e ao contrário da imagem de unidade que agora se quer fazer passar, tinha metade do partido a tentar derrubá-lo. Enquanto primeiro-ministro, embora estivesse à menos de um ano no cargo, preparava já a sua demissão.

E ainda tem o grande defeito de ter trazido para a política activa, como seu ministro das finanças, um dos principais responsáveis, nos vários cargos em que ocupou, do estado em que o nosso país se encontra actualmente.

É claro que à direita nacional dá jeito nesta época de falta de personagens carismáticas aclamar uma figura que a unifique. Só dessa forma se explica que tenham sido necessários 30 anos para que PSD e CDS comemorassem juntos o mito de Sá Carneiro. Porque agora lhes dá jeito. De outra forma, seria apenas um rodapé nos discursos de um ou outro líder do PPD/PSD com o mesmo carisma que ele.