domingo, novembro 14, 2010

Esquizofrenia Vermelha (e Verde?)

Este assunto já foi escrito por várias pessoas, e não se trata de uma critica gratuita, mas antes de uma reflexão que venho a maturar já há alguns anos. Tenho evitado escrever sobre futebol, mas acho que este assunto vai para além do pontapé-na-bola, e diz algo sobre a nossa sociedade em geral.
Reportando-nos aos últimos anos, a massa de adeptos do benfica tem tido comportamentos interessantes. Quando a época começa, o entusiasmo é geral, a equipa é a melhor do mundo e "este (esse) ano é que é". Todas as chamadas para assentar os pés na terra são despachadas como sendo heresias perigosas. Depois, com o avançar da época e os primeiros desaires, o desânimo instala-se, os jogadores são os piores do mundo, o treinador não presta e cedo lhe dão guia de marcha (pelo menos afectivo) para ir pregar para outra freguesia.
É uma atitude entendível, mas fosse a velocidade com que passam do 80 para o 8, às vezes no espaço de tempo que leva uma bola a bater na trave.
Outras vezes, como no ano passado, a equipa começa bem e continua a jogar bem, produzindo grandes resultados e exibições. Aí, o entusiasmo mantém-se e transforma-se em empáfia. Qualquer palavra sobre futebol acaba com a frase "carrega, benfica". Todos os adversários são menosprezados e tratados com o desprezo de quem se acha com o direito divino a ganhar. Dizem-se coisas impensáveis e, pior que isso, fazem-se. O clube lá ganha o campeonato, faz-se a festa nacional e internacional e lá se acalmam as hostes.
A euforia transporta-se para a época seguinte, como esta época, e os adeptos julgam-se que a equipa é já a melhor do mundo, capaz de ombrear com qualquer tubarão europeu. Os sonhos agigantam-se e pensam já em ganhar a Liga dos Campeões. Até que a época a sério começa e novamente, aos primeiros dissabores, as coisas afinam. Os mesmos jogadores e o mesmo treinador que na época anterior eram os melhores do mundo, passam a ser dispensáveis e a precisar de ser trocados. As coisas pioram quando se é goleado por um rival. Aí, até o treinador que até há pouco tempo encarnava a mística benfiquista, passa a ser suspeito de estar ao serviço do tenebroso presidente adversário. O estado de espírito chega ao mínimo possível.
Eis senão quando, passando uma semana, basta jogar em casa com a pior defesa do campeonato e tudo volta ao entusiasmo generalizado. Os adjectivos de "Mágico" e "Maravilhoso" voltam a ser empregues sem travão.
O impressionante desta montanha-russa de emoções é que representam um estado de espírito de um grupo sem qualquer tipo de confiança na instituição que o representa. Que é mais ou menos o que acontece em Portugal. Oram façam lá a reflexão...

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