sábado, outubro 29, 2005

Patrões

Martelinho foi um jogador símbolo do Boavista campeão nacional de futebol. Saiu em desacordo de verbas com o clube, na negociação para um novo contrato.

Esta semana, Martelinho em declarações para a comunicação social, afirmou que o Boavista ainda lhe devia dinheiro referente ao período de trabalho ao serviço do clube.

Com o timbre habitual da sua família, habituado a pôr e dispôr de todos, João Loureiro veio ontem a público afirmar que se o Boavista devia dinheiro ao Martelinho, também o Martelinho devia dinheiro ao Boavista. Como trabalhador por conta de outrém que sou, só concebo esta afirmação se a entidade patronal andar a emprestar dinheiro ao seu trabalhador. Será que o Boavista andou a emprestar dinheiro ao Martelinho? E os ordenados do jogador mais bem pago do clube (segundo as afirmações de Loureiro Filho) não chegavam para ir descontando uma parte e amortizando as dívidas?

Isto cheira-me a desculpas de mau pagador. Ainda mais quando o próprio presidente não sabe em que fica o saldo final entre o deve e o tal haver do seu clube a um dos seus funcionários... Diz que as contas se farão depois e talvez se veja que o Martelinho ainda terá algo a pagar.

Só me espanta este desconhecimento... Não têm registos? Não têm dossiers sobre cada um dos funcionários da empresa? Não sabe o que entra e sai da sua empresa? Esta situação resume-se tão só a uma coisa: Intimidação

Ainda por cima, o patrão do Boavista tem a distinta lata de bendizer o seu (agora) atleta João Pinto por, segundo ele, ter a haver quantias muito superiores dos clubes por onde passou (leia-se Benfica e Sporting) e não dizer nada sobre isso. Diz o Dr. (sim, este é Dr. , mas tem a esperteza do que diz que é Major... adiante) . Diz o Dr. Loureiro que este sim é um exemplo, um grande homem... grande exemplo, sim... Chama-se, em bom português, "Amôchar"...

Irónico é o João Pinto já ter dito que este é o último ano em Portugal e que vai para o Qatar na próxima época... Se calhar vai ficar a dever dinheiro ao Boavista...Acautele-se Dr. Loureiro... Ainda vai ter de ir ao Qatar buscar o dinheiro...

O que se verifica aqui é só um exemplo... Que está a ser revelado por causa da exposição mediática do futebol. Quantas centenas de milhar de trabalhadores por esse país fora se esfolam a trabalhar para depois ver os direitos mais básicos negados (como o ordenado, os períodos de baixa, a assistência à familia ou mesmo o simples ir à casa de banho).

Como querem uma classe trabalhadora motivada, eficaz, produtiva, se não há garantias de que o trabalho lá estará quando se voltar de ter sido mãe? ou de uma doença? Isto são coisas básicas... mas podemos juntar a segurança no trabalho, a higiene, a formação adequada... Só se lembram sempre de flexibilizar horários, reduzir ordenados, retirar direitos sociais... A corda estica sempre para o lado do mais fraco...

Por causa deste Patrões é que o país está como está... Quando é que temos por cá mais empresários e menos filhos dos pais, sobrinhos dos tios, afilhados dos padrinhos?

De quem vem não se podia esperar mais nada... Parece que este episódio me desiludiu bastante sobre o estado do país, na área das relações laborais... E desiludiu mesmo...

E em cima disto tudo ainda querem eleger o Adolfo(zinho) do Poço (perdão, fonte) de Boliqueime... Está-se mesmo a ver porquê...

Por essas e por outras é que, à cautela, tenho andado a traduzir o meu CV para Inglês. Para me juntar aos 20% que já fugiram...

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