sexta-feira, outubro 21, 2005

Mariza

Na nova e excelente geração de fadistas, Mariza tem sido aquela com maior sucesso a nível internacional. No entanto, onde uns veêm um grande talento do fado, outros veêm apenas um produto de marketing.

Qualquer bom português terá tendência a desvalorizar este sucesso nacional no estrangeiro, relacionando-o apenas com uma campanha de publicidade bem montada baseada em cabelos curtos e louros e vestidos do joão rolo.

Não será de estranhar o sucesso de Mariza no estrangeiro, e terá precisamente a ver com a sua apresentação. É algo de exótico ver uma rapariga do sul da europa, que não é negra nem branca nem mulata, com cabelos curtos e loiros, de vestido comprido. Se a tudo isto acrescentarmos uma música diferente do mainstream e mesmo diferente do fado que já é conhecido lá fora, temos grandes probabilidades de sucesso. Não será por isso de admirar o grande investimento de divulgação que a EMI tem feito para que a carreira de Mariza não fique só por este rectângulo. Goste-se ou não, ela tem mercado. E há que o aproveitar.

Mariza não será a melhor fadista actual, no sentido estrito do termo. Temos por exemplo Ana Moura ou Kátia Guerreiro, que serão mais próximas do fado tradicional, e terão uma força de interpretação maior.

No entanto, sendo, sem sombra de dúvidas, o fado a origem do seu estilo (embora tenha começado pela música ligeira), Mariza tem evoluído para terrenos híbridos, sendo por isso natural que o seu último disco, "Transparente", seja produzido por um dos mais sólidos representantes da actual bossa nova, Jaques Morelenbaum (e gravado em São Paulo).

Os poemas escolhidos, mantendo uma raíz tradicional, são acompanhados com arranjos simples mas complexos como só a busca da verdadeira simplicidade pode ser, utilizando instrumentos tão diferentes como o Violoncelo, o Acordeão, o Cavaquinho ou mesmo um acompanhamento orquestral. O disco evolui de uma forma flúida de arranjos mais austeros até ao seu final, onde as músicas ganham uma intensidade musical próxima das bandas sonoras. Mariza prova que se sente à vontade tanto com o acompanhamento standard do Fado, como com as experimentações de Morelenbaum. E o resultado final é algo de notável.

Na carreira de Mariza existe uma evolução musical segura, cuidada e com um destino certo. Até atingir a sua identidade. Algo que nunca será definido, mas que será sempre Fado.

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