quarta-feira, janeiro 05, 2005

Jorge Coroado

Acabei de ler o comunicado da APAF sobre o ex-árbitro jorge coroado, e concordo com o que está lá exposto, mesmo com o tom mais acirrado. De vez em quando o copo transborda e há que responder na mesma moeda.

Já tinha várias vezes pensado em escrever neste blog sobre a conduta desta personagem, nas suas aventuras pela rádio e pelos jornais, mas ainda não tinha encontrado o tom certo. Agora não necessito, porque que as críticas que desejava fazer estão no comunicado emitido, num tom que eu não ousaria utilizar.
Penso que há formas pedagógicas de tratar temas tão sensíveis como o da arbitragem (infelizmente para a nossa sociedade este é um tema sensível... enfim...) .
Neste assunto, como em muitos outros, uma determinada forma de dizer algo pode desencadear reacções em cadeia, de resultados imprevisíveis.
Dessa forma, na hora de dizer algo que é consumido por todos e ouvido por alguns, podemos criticar sem demolir mas também louvar o que se faz de bom e apontar como exemplo.
Mas podemos fazer tudo isto de uma forma simpática, sem necessitar de mostrar uma má cara (ou uma má voz) para nos fazermos sentir respeitados. Esta é uma fórmula que já foi utilizada nos campos de futebol por JC. Mas nunca se lembrou este cavalheiro de que a intimidação é o argumento de quem não tem mais argumentos.

Voltando à Vaca Fria (ou, neste caso, ao Boi Preto), a crítica feroz de aqueles que já foram seus colegas e que cometem agora os mesmos erros (técnicos e de postura) que ele já cometeu, só revela uma enorme fragilidade psicológica e uma necessidade de protagonismo que ultrapassa os limites do aceitável. Ele já esteve lá no campo, sujeito às mesmas pressões e já falhou e acertou, como todos os outros. Vem agora arvorar-se em arauto da perfeição porque tem uma tribuna privilegiada nos media.

Houve um episódio, que ouvi na Antena1, aquando de um jogo de futebol, em noite europeia, de meio da semana e bem recente. Começou o relato do jogo e o comentador omnipresente da arbitragem não se encontrava no seu posto, de palavra em riste. Chegou atrasado, devido a problemas de trânsito (motivados por uma manifestação de estudantes) , e, quando introduzido na emissão pelo locutor de serviço (que apenas mencionou o motivo do trânsito), apressou-se a descarregar a sua bílis: “(...) por culpa de uns meninos mimados que gastam as solas e o dinheiro aos seus pais (...)”. Numa palavra, Elucidativo. Numa outra palavra, Frustrado.

Esta figura julga-se no direito de descarregar as suas frustrações pessoais, comportamentais e associativas indiscriminadamente sobre tudo e todos só porque tem um microfone à frente. E numa empresa paga integralmente com capitais públicos. Eu estou a pagar para ouvir estes disparates...

Claro que todos sabemos que os seus comentários são efectuados neste tom pela única razão de que qualquer gato-pingado que se coloque em bicos dos pés e se disponha a dizer mal de alguém ou de alguma coisa tem espaço garantido nos media. É o (péssimo) estado das coisas na nossa comunicação (?) social.

Mas espero que se lembre também de que um determinado registo cansa depressa. Que a sociedade se tornou perita em mastigar comentadores e figuras mediáticas para depois os tirar da boca e colar debaixo da mesa, até que fiquem ressequidos e esquecidos.

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