domingo, dezembro 31, 2006

Desencanto

Termino este ano de 2006 com desencanto. Depois de Pinochet ter conseguido definitivamente escapar à justiça, Saddam Hussein foi executado por enforcamento na madrugada de ontem, dia 30.

Por um lado, não se conseguiu trazer perante a justiça e destruir o mito de um dos ditadores mais sanguinários da América latina.

Por outro, executando outro criminoso da mesma estirpe, acicataram-se ainda mais as relações já de si delicadas entre xiitas e sunitas no Iraque, que influenciarão todo o equilíbrio de poderes no médio oriente.

A execução de Saddam já se anunciava desde a sua captura, visto que não se tratou mais do que uma vingança dos xiitas apoiados pelos Estados Unidos. O que me deixa chocado é que, supostamente, o Ocidente quer ajudar a tornar o Iraque uma democracia. Ora, uma democracia não se pode basear em processos sumários, conduzidos por uma determinada facção, com julgamentos em que o único objectivo é o de efectuar um linchamento público. Se dúvidas existissem, o modo em que a sentença foi executada, não deixa margem para dúvidas. Uma dúzia de homens de cara coberta, num armazém qualquer, trazem um condenado para a forca, ao melhor estilo medieval. Nenhuma referência às autoridades, nenhuma farda, nenhum distintivo. Apenas um bando de gente com o objectivo de por fim a uma vida. Pelo que agora se sabe (aqui), os verdugos entoaram o nome do líder radical xiita Moqtada al Sadr, aquando da execução, o que coloca mais ênfase na única conclusão que se pode tirar: Foi executada uma vingança. Saddam Hussein passou das mãos dos militares Norte-Americanos directamente para as mãos dos xiitas, que o executaram de imediato.

Saddam Hussein não mereceria mais. Foi um homem que mandou matar milhares de pessoas, com uma crueldade sem limites.
Mas quando se opta por uma execução, e da forma com esta foi efectuada e divulgada, estamos a negar o que ele negou às suas vítimas e que tanto apregoamos como uma das bases da nossa sociedade: Dignidade.

De uma forma irónica, Pinochet conseguiu escapar à justiça, utilizando as armas que ele sempre negou às suas vitimas e que estão ao dispor dos cidadãos num estado de direito. Saddam não teve essa sorte, talvez porque não teve o mesmo apoio....

terça-feira, dezembro 12, 2006

Pinochet

É irónico que Pinochet morra no dia dos direitos humanos. Tão irónico quanto a sua morte ser a sua derradeira fuga à devida condenação nos tribunais. Depois de anos de esquivas, finalmente o ditador conseguiu evitar a destruição final do mito.

Morre sem ter sido condenado a uma única pena. Morre sem que os que sofreram com o seu cruel regime vejam apaziguada alguma da sua angústia e, por que não dizê-lo, raiva.

Pinochet foi um homem mau. Cabe aos que ficam preservar a memória dos seus actos, para que não se repitam.