quarta-feira, abril 28, 2010

E lá vamos nós outra vez

Veio hoje mais uma tempestade provocada por umas agências de rating que, baseadas sabe-se lá em que critérios, decidem a seu belo prazer qual a cotação de cada país relativamente à sua capacidade de cumprir o pagamento das dívidas. À baixa do nível de rating do nosso país seguiu-se uma queda nos valores das acções em bolsa e algumas reuniões de emergência seguidas de declarações dos nossos políticos.

Reuniram-se os dois principais líderes partidários nacionais, e o que concluíram? Que a crise económica deveria ser paga por aqueles que a criaram, como os bancos ou os grandes investidores bolsistas? Não. Decidiram que as primeiras medidas a tomar são para culpabilizar e controlar os desempregados e os pobres.

Ou seja, em face de uma crise, são exactamente aqueles que mais com ela sofrem os primeiros a ser penalizados. Por que não aumentar os impostos para aqueles que ganham dinheiro com o mercado de capitais, não produzindo nenhuma riqueza para a sociedade?

Continuamos na mesma. Mesmo depois dos avisos que esta crise nos trouxe, continuamos a seguir cegamente o mercado financeiro. Não aprendemos que a economia baseada em castelos de cartas tende a ruir.

Onde iremos parar?

sexta-feira, abril 16, 2010

Wishful Nations

Mário Soares veio dizer hoje que Cabo Verde não deveria ter sido independente.

Tenho visto já algumas reacções (tanto nos próprios comentários das notícias como no Facebook, por exemplo) a estas declarações.
Por um lado os defensores do direito à auto-determinação de todos os povos, invocam que o desejo de qualquer povo a ser independente é suficiente para que tal aconteça.
Por outro lado, os críticos da descolonização defendem que não só Cabo Verde, como a maioria das restantes colónias ainda deveriam ser parte de Portugal. Aqueles chamam fascistas e colonialistas a estes e estes respondem com os epítetos habituais de comunas, esquerdalhos ou com acusações de falta de patriotismo.

Na minha opinião, e retirando deste assunto as questões concretas, para não invocar assuntos que ainda estão muito frescos na nossa memória colectiva, existem territórios que não são viáveis enquanto países independentes. Kosovo ou Timor-Leste são para mim disso exemplos, tal como o são muitos dos micro-estados da Oceânia ou das Caraíbas.

Penso que não é necessário para a autodeterminação de um povo, que o seu território seja independente. Soluções de autonomias especiais, com legislação própria existem por todo o mundo, e são disso exemplo as variadas opções encontradas pela França para dotar de diversos graus de autonomia os seus territórios ultramarinos.

Não vejo qual a necessidade de criar um estado independente que não tem recursos para ser auto-suficiente, e que necessitará constantemente de ajuda externa. Por muito bonito que seja pensar que existe mais um povo no mundo que atingiu a sua independência, todas as suas implicações futuras devem ser acauteladas. Nos casos que mencionei, existem sérias dúvidas de que estes novos países estarão alguma vez fora da alçada das Nações Unidas ou da intervenção directa de outros países.

Como óbvio, não estou a falar de territórios e de povos que estejam sujeitos a constante opressão por parte de um qualquer estado totalitário. Esses têm todo o interesse em obter a sua separação. No entanto, no seio de um país democrático, em que sejam salvaguardadas as suas diferenças culturais e a sua identidade enquanto povo, não será indispensável a sua independência.